Barcelona, principal pólo industrial da Espanha, na metade do seculo XIX foram derrubadas suas muralhas e deu-se início a um novo planejamento urbano.
Entre vários projetos, o vencedor foi Ildefonso Cerdá Suñer, aprovado em 1859 dando origem ao PLANO CERDÁ.
Cerdá foi um dos primeiros tratadistas de arquitetura e urbanismo a
reivindicar a salubridade das habitações de maneira radical e efetiva
como fundamental condição na criação da nova cidade,
considerando a moradia como suporte fundamental da qualidade de vida.
A
casa é o ponto de partida do raciocínio de Cerdà. As habitações
planejadas tinham como características: a privacidade do
indivíduo no lar, com condições dignas de vida, o higienismo (sol,
vento, ar, luz natural), que deveriam estar presentes nas habitações e o
custo, adaptação do empreendimento para a classe operária.
Empregou grande esforço na formulação das “ilhas tipo” e, a partir do
reconhecimento da quadrícula como o traçado que reúne tanto vantagens de
ordem circulatória, topológica, construtiva, jurídica como urbanística,
chega ao módulo quadrado de 113m de lado com um chanfro de 20m como o
mais adequado.
O plano de Cerdá desenha uma grelha ortogonal, com quadras de 113m x
113m e vias de 20m de largura, elevando a taxa de superfície viária,
incluindo praças, de 17% para 34%. A cada conjunto de nove quadras e
vias correspondentes se inscreve dentro de um quadrado de 400m de lado. A
quadricula estende-se até os núcleos urbanos vizinhos e envolve a
cidade medieval. Apesar de aparentar a imposição de uma nova ordem,
indiferente ao contexto, o ajuste das bordas é feito com extrema
habilidade tendo como suporte avenidas diagonais que surgem a partir de
conexões pré-existentes. O corte diagonal nas arestas da quadra
transforma o simples cruzamento de vias em lugar, gera também desta
forma maior amplitude visual dos edifícios de esquina. As grandes
avenidas possibilitam a conexão metropolitana e a integração à
viabilidade universal. A tipologia é ortogonal, homogênea e igualitária.
O plano previa quadra com ocupação perimetral em dois ou no máximo três
lados. Os edifícios não ultrapassariam mais do que dois terços da
superfície do quarteirão. Os espaços internos resultantes se abririam
para a cidade oferecendo equipamentos públicos e generosas áreas
arborizadas.
O importante é enfatizar que neste momento a quadra passa
de uma condição de residual para se tornar suporte de uma composição
urbana que a tem como espaço da cidade. O perímetro da quadra deixa de
ser o limite do espaço público.
As ruas eram planejadas seguindo os princípios da orientação solar,
largura, perfis transversais, tipo de pavimentação, diferença de cotas
entre outros. As paisagens, praças e quadras deveriam interagir entre
si, além de serem elementos harmônicos na cidade: isso seria possível
através da análise de cortes (relação altura x largura) e na relação da
casa com a quadra.
Do desejo original de Cerdà permaneceu apenas o traçado viário, que é o
elemento mais visível e conhecido de sua obra. As quadras foram
maciçamente ocupadas no perímetro junto ao alinhamento da calçada
retomando um caráter que a reaproximou da quadra tradicional.
Originalmente as quadras foram concebidas em média com 67.000m³ de área
construída, atualmente após 150 anos de adensamento progressivo temos em
média 295.000m³ de área construída por quadra.
Mas, mesmo com tamanha mudança e adensamento, Barcelona continua sendo uma lição de Urbanismo para nós arquitetos. Espaços generosos que presenteiam democraticamente a cidade e seus cidadãos.
Uma ótima semana a todos!
Research:
http://planocerda.blogspot.com
http://www.esacademic.com
Daniela Prieto
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